domingo, 26 de outubro de 2008

Mensagem do Dr. Inácio

Extensão da casa espírita

Ao chegarmos à instituição espírita que visitamos há 2 semanas, fomos, eu e nosso estagiário Bruno, recebidos por nobre instrutor que estava à frente das atividades espirituais da casa. Antes de identificar-me, o amigo antecipou-se dizendo:
- “Salve Dr. Inácio, quanta honra sua presença entre nós. O Senhor saberá recompensá-lo pela abdicação de tão árduas ocupações para nos fornecer sua palavra experiente nesta noite”.
-“Que nada, meu amigo. – respondi. Sou eu quem precisa, de tempo em tempo, deixar o contato ostensivo com os enfermos para me abastecer dos fluidos amistosos dos co-idealistas. O prazer é todo meu”.
À hora aprazada, após sentida prece proferida por uma confreira da casa e a leitura de uma lição do Evangelho Segundo o Espiritismo, comentei sobre o significado de um centro espírita em qualquer região na Terra. Listei os benefícios para os encarnados e desencarnados, quando se transformam em obreiros do Senhor e exaltei a oportunidade a nós oferecida, por meio de suas atividades, de aprendermos sobre as legítimas humildade e caridade, não somente no sentido das doações materiais distribuídas com alegria e devoção, mas também no relacionamento sadio e fraterno que deve existir entre os integrantes ligados às tarefas da instituição.
Encerrei a singela preleção e fomos convidados a conhecer os confrades encarnados, que simultaneamente realizavam a reunião no plano físico. Bruno estava encantado com a lucidez intelectual do palestrante da noite, que com muita propriedade dissertara sobre o capítulo “O Cristo Consolador”, dissecando cada postulado da Nova Revelação com brilho e mestria. Mais impressionado ainda ficou ao acompanhar o carinho, a delicadeza e a atenção que o orador dispensava a cada um dos que o procuravam para parabenizá-lo ou tirar alguma dúvida sobre o assunto abordado e/ou outros distintos.
Após o término das atividades formais e informais, estas últimas o saborear de aromatizado chá preparado por hábeis mãos (não se assustem, continuamos tomando um chazinho por aqui, apesar de pessoalmente preferir um cafezinho), fomos convidados pelo dirigente a acompanhar o palestrante até sua casa. Questionado a respeito da inesperada medida, o amigo disse:
-“Creio que o que presenciaremos lá será de grande valor para o aprendizado de nosso Bruno”.
Logo, o irmão encarnado adentrou seu lar, que estranhamente não exteriorizava as vibrações superiores provenientes da oração no domicílio. Entramos com ele e uma senhora, ao vê-lo, foi abraçar-lhe afetuosamente e rapidamente ele se desenlaçou de seus braços e com voz áspera questionou:
-“Não vê que estou cansado? Trabalhei o dia inteiro e estive até agora no centro!”
A senhora, paciente, retrucou sorrindo:
-“Mas um abraço e um beijo não dura mais de 30 a 40 segundos, portanto não te cansaria em nada!”
O confrade nem sequer escutou o que a esposa disse e dirigiu-se à cozinha e, ao ver que a comida do jantar ainda estava fria, encolerizou-se e aos gritos perguntou:
-“Você ficou aqui o dia inteiro praticamente sem ter o que fazer; eu chego faminto e nem sequer comida quente consegue me oferecer?”
A dama, serena, respondeu:
-“Otávio, Otávio, um dia você ainda retornará à Terra como dona de casa e verá se realmente temos tanto tempo ocioso assim. Além do mais, você provavelmente não percebeu que chegou 15 minutos mais cedo hoje, justamente o tempo que gasto para esquentar o jantar para que você se sinta satisfeito.”
De cenho carregado, o palestrante dirigiu-se ao quarto dizendo que iria tomar banho para esfriar a cabeça e deparou-se com um jovem de aproximadamente 13 anos que, feliz, lhe disse:
-“Pai, que bom que chegou! Pode me ajudar com um programa que não consigo instalar direito no computador?”
-“Lá vem você com seus jogos inúteis, Júnior – retrucou. Não tenho tempo para suas bobagens agora. Está tarde e tenho mais o que fazer. Não vê que acabei de chegar!”
O jovem, cabisbaixo, saiu do caminho do genitor e pude captar-lhe o pensamento, que nem sequer teve coragem de dizer: - Não é um jogo, pai, é um programa que um professor nos passou para que trabalhássemos antes da aula para facilitar o andamento da mesma amanhã...
O sujeito entrou no quarto batendo a porta, impaciente, e logo ouvimos o ruído do chuveiro que tanto almejava...
Saímos da casa e Bruno, em silêncio, não se arriscou a abrir a boca e o anfitrião do centro espírita onde estávamos arrematou:
-“Pois é, meu filho, haverá um dia em que o lar será uma extensão da casa espírita e aí as aparências serão substituídas por virtudes verdadeiras e as máscaras sociais cairão para sermos um só em todos os lugares”.
Frente as palavras do dirigente desencarnado, também eu permaneci em silêncio e ali mesmo dele nos despedimos.

Inácio Ferreira – reunião íntima – 14/10/2008

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